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E se o mal não estivesse lá fora? A parte obscura em nós

  • Foto do escritor: Pedro Kunzler
    Pedro Kunzler
  • 4 de abr.
  • 2 min de leitura

Vivemos tempos que exigem clareza, coerência, autocontrole.

Como se fôssemos todos obrigados a funcionar com equilíbrio constante, desejo alinhado à norma, emoção sob medida.


Mas e quando algo em nós escapa?


Quando sentimos prazer onde não deveríamos?

Quando uma fantasia nos atravessa e imediatamente vem o julgamento:

“O que há de errado comigo?”



O que fazemos com o que nos atravessa



Na clínica, é comum encontrar pessoas que sofrem não pelo que vivem, mas pelo que sentem.

Um paciente que sonha com algo “estranho” e se envergonha.

Outro que admite raiva diante de quem ama e logo teme estar “adoecido”.

Gente que vive em conflito com o próprio desejo — não porque ele machuca alguém, mas porque não cabe no ideal que construiu para si.


Esses conflitos não falam de perversão no sentido vulgar.

Falam de um tipo de sofrimento ético, que nasce do choque entre o que sentimos e o que acreditamos que deveríamos sentir.



“Quando a perversão se torna um insulto…”



Élisabeth Roudinesco, em A Parte Obscura de Nós Mesmos, escreve:


“Quando a perversão se torna um insulto, deixa de ser um conceito clínico para se tornar um instrumento de exclusão.”


O desejo de erradicar a perversão — no corpo, no comportamento, no pensamento — cria um mundo cada vez mais intolerante.

Projetamos nos outros aquilo que não queremos reconhecer em nós.


E assim, acreditando viver sob luz plena, vamos deixando nossas sombras sem nome, agindo no silêncio.



A sombra é parte da vida



A psicanálise não quer corrigir ninguém.

Ela oferece um espaço para pensar o que não tem lugar.

Para nomear o que assusta.

Para sustentar perguntas sem resposta.


Negar a sombra não nos torna mais éticos — nos torna menos inteiros.

E reconhecer essa parte obscura talvez seja o início de uma ética mais honesta: menos pautada na perfeição, mais aberta à complexidade de ser quem se é.


Porque, afinal, a sombra não é o oposto da luz. É o que dá profundidade à existência.

 
 
 

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